O Brasil inteiro se chocou no final do mês de julho com o caso da advogada Tatiane Spitzner que sofreu diversas agressões do seu marido, reveladas pelas câmeras de segurança do prédio onde moravam, e por fim sofre uma queda da varanda do apartamento do casal que ficava no quarto andar. Tatiane morreu, segundo revela a autópsia, não pela queda mas por estrangulamento. Mais uma vítima de violência doméstica, mais uma vítima do feminicídio, menos uma mulher para lutar por todas as outras.
Casos como esse não são raros, a dominância do homem sob a mulher ainda se revela corriqueira e casos como o da advogada que são escancarados na mídia ainda chocam, porque a maioria deles acontece dentro de casa, entre quatro paredes, sem que ninguém possa ver.
Tatiane gritou por socorro enquanto lutava para viver, assim como ela, muitas vítimas também berram na esperança de que alguém intervenha, aí se revela mais uma faceta dessa cultura que precisa ser revista: “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”, as vozes que gritam por socorro são ignoradas, morre uma, duas, dez, mil… ninguém se move. O silêncio chega e junto com ele o fingimento de que nada aconteceu.
Quem se cala é cúmplice, agride porque não se importa, porque não defende, porque se cala diante do desespero. Então, em briga de marido e mulher, se mete a colher sim. Porque a ignorância, a violência e o machismo não podem mais vencer, tirar vidas e humilhar uma classe inteira. Se me te a colher porque essas mulheres merecem respeito, carinho e amor. E porque a sociedade deve isso à todas elas.
Sabe-se que muitas continuam em relacionamentos abusivos porque não conseguem ter sua própria fonte de renda (o mercado não está pra peixe, se a solicitante da vaga for mulher, então, nem se fala). Sabe-se que quando tomam coragem para fazer a denúncia, na delegacia que é majoritariamente masculina, são acuadas, culpadas, ainda mais humilhadas, reduzem sua dor a nada, daí voltam para casa porque se a polícia não pode ajudar, quem mais poderá?
A resposta é: Você. Você que está ouvindo ela apanhar. Você que sabe o que ela está sofrendo, que escuta seu choro, que vê seu corpo marcado, que sabe o que está acontecendo. Por isso, meta a colher, você pode salvar uma vida, você pode ser a voz que ela ainda não tem.